quinta-feira, 20 de abril de 2023

O segundo dia (1 de Junho) - Parte 1 - N230

 "And since my feet are now fast

And point away from the past

I'll bid farewell and be down the line"

         Bob Dylan - Restless Farewell


Porque viajamos? Não me refiro as viagens que fazemos por obrigação, como por exemplo para ir trabalhar, mas sim àquele bichinho que nos rói por dentro, ou dito de uma forma mais elegante, a uma espécie de chamamento latente, ora mais claro ora mais distante. Talvez seja qualquer coisa primordial ou instintiva, um vestígio de eras passadas, onde migrar era uma questão de sobrevivência, como continua a ser para muitas espécies do reino animal. Há também qualquer coisa de agridoce. Deixamos sempre algo para trás, e o que deixamos para trás continua o seu curso, tal como nós continuamos no nosso. Perdemos, por não estar, mas também ganhamos: outras experiências e vivências. Amadurecemos e endurecemos. E deixamos (nos outros) e levamos (connosco) saudade, esse conceito também agridoce e intimamente ligado ao ato de viajar. 

O segundo dia amanheceu invernoso, confirmando os sinais de mudança dados ao final do dia anterior. Tomei o pequeno-almoço, arrumei o que tinha a arrumar, fiz o checkout, e voltei a montar os sacos laterais na mota. Estava um nevoeiro denso, pelo que teria de ter um cuidado adicional ao descer o resto da N339. A descida foi feita com cuidados adicionais, pois a visibilidade era mínima. Ao começar a entrar na Covilhã, as condições de visibilidade melhoraram, mas o nevoeiro foi substituído por uma chuva miudinha.  

O programa das festas para o dia era ambicioso. O plano era apanhar a N230 já a saída da Covilhã e fazer um troço considerável da mesma. Depois, seria altura de rumar a norte, em direção à N222. Mas para conseguir cumprir o plano, teria de fazer algumas estradas municipais até convergir com a A25, apanhando depois o IP5 e a A24, saindo depois para a N313 e finalmente chegando a N222. Abandonaria a N222 para apanhar a N323 e depois a N322, por forma a tentar apanhar a A24 mais a norte, e daí seguiria até Chaves. Portanto, muitos quilómetros pela frente. Mas as estrelas do dia seriam a N230 e a N222. 

O percurso efectuado na N230, R230 e demais caminhos até à A25.

N230

Curvas, curvas e mais curvas. A N230 liga a Covilhã a Aveiro, mas a parte mais cénica do percurso é aquela que faz fronteira com o Parque Natural da Serra da Estrela. Essa parte foi feita sob chuva miudinha, pelo que pouco depois da saída da Covilhã optei por colocar as capas impermeáveis nos sacos laterais, uma vez que tive receio que as capacidades de impermeabilização dos sacos laterais não fossem grande coisa. 

Algures na N230.

Foi definitivamente uma viagem molhada e bastante desconfortável, pelo menos até passar a área do parque natural. Pouco depois da Ponte das Três Entradas, a N230 como que desaparece momentaneamente, sendo substituída pela N17, voltando a aparecer uns quilómetros mais à frente, atravessando Oliveira do Hospital, passando algum tempo depois a ter dimensões mais modestas e um piso em relativo mau estado. 

Em Ponte das Três Entradas.

Mais à frente, torna-se realmente confusa, desaparecendo e voltando a aparecer novamente mais à frente, deixando de ser a N230 para passar a ser a R230. Se as condições climatéricas deram tréguas até à chegada a Tondela, a partir do Caramulo voltaram a piorar significativamente. Esta é a parte menos glamorosa (se é que existe qualquer glamour) de uma viagem deste tipo. Subir o Caramulo todo encharcado, com uma chuva miudinha e muito má visibilidade, e com uma vontade incrível de urinar tira todo o encanto a uma viagem destas. Ainda para mais quando o itinerário foi construído através do MyMaps do Google Maps, em que desenhar um percurso recorrendo a "drag and drop" de pontos num mapa tem tudo para dar mau resultado. A partir de certa altura, dei por mim em caminhos municipais com mato denso de um lado e de outro. O ponto positivo era que não se via vivalma e foi fácil encontrar uma escapatória para aliviar necessidades fisiológicas. Eventualmente consegui dar com a N333 e com a A25. Mas foi uma verdadeira aventura até lá chegar! E ainda só tínhamos feito o primeiro troço do percurso.

Miradouro de Varandas de Avô.




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