terça-feira, 4 de abril de 2023

O primeiro dia (31 de Maio) - Parte 1 - A Partida

VIAGEM

Aparelhei o barco da ilusão

E reforcei a fé de marinheiro,

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos.)


Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida,

Desmedida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura...

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.

                                Miguel Torga


O dia amanheceu solarengo, embora algo fresco. Embora tivesse preparado tudo no dia anterior, fiz uma extensiva verificação de última hora. Obviamente, sentia um nervoso miudinho, pois nunca tinha feito algo do género, de mota, e sozinho, com inúmeras dúvidas sobre o que iria encontrar. Até ao momento, e apesar do gozo que me dava, a mota tinha sido, acima de tudo, um meio necessário para me transportar todos os dias até ao trabalho e de volta a casa, fintando o trânsito, e dessa maneira permitindo ainda ter tempo para mim e para os meus. Mas agora seria diferente. 

Lembro-me de, nos dias imediatamente anteriores à viagem, ter controlado essas dúvidas com doses adicionais de motivação, trazidas pela visualização de um conjunto de vídeos fantásticos que relatam uma viagem de um mês através da América em cima de duas rodas:

É claro que falamos de viagens incomparáveis em termos de magnitude, mas esta seria a minha viagem. 

O plano foi estabelecido nas semanas anteriores: de forma a ganhar tempo para percorrer as estadas que queria percorrer, seguiria através de autoestrada até Castelo Branco. A partir daí, mergulharia de cabeça nas nacionais, percorrendo três nesse primeiro dia: N112, N238 e N339. Ao todo, cerca de 440 kms.

O percurso para o primeiro dia.

Parti antes das 9 da manhã. A viagem em autoestrada não foi particularmente agradável, e durante esse percurso o tempo pareceu alternar entre o solarengo e o nublado. Não há nada de relevante a relatar durante esse percurso, apenas uma paragem numa estação de serviço para usar a casa de banho e esticar as pernas durante uns curtos minutos. Chegado a Castelo Branco ainda de manhã, fiz mais uma pausa para verificar mais uma vez o percurso.

Importa dizer que durante a viagem usei uma app chamada Routes para me guiar através dos percursos estabelecidos. Embora tenha usado o Google Maps para desenhar a rota a seguir, arrastando a linha que define o percurso por forma a passar pelas estradas que desejava, este não permite seguir a rota definida, tendo de exportar a mesma e carregar nessa outra app. Infelizmente, a app Routes tem (ou tinha na altura) capacidades de navegação bastante inferiores aquelas disponibilizadas pelo Google, mas pelo menos iria poder seguir o percurso que tinha definido. 

Mais ou menos. Acontece que ainda andei meio que perdido em Castelo Branco até conseguir dar com a N112.

Paragem no miradouro da Sarnadela, em plena N238.


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