sábado, 29 de abril de 2023

Lavagem do casaco de Inverno

Com a chegada do bom tempo, é altura de dar descanso ao material de inverno. Tenho um casaco Alpinestars Ketchum Goretex que utilizei diariamente os dois últimos invernos, fizesse chuva ou sol. É um excelente casaco, que oferece boa proteção contra os elementos. 

Antes da lavagem.

Para ser mais visível na estrada, adquiri o mesmo em cinzento, embora esta cor tenha como sua maior desvantagem o facto da sujidade se notar com maior facilidade. E quem anda na estrada diariamente, especialmente à chuva , inevitavelmente vai sujar-se. A estrada é de facto um lugar sujo.

Proteções e forro retirados.

Para que o casaco esteja pronto a utilizar quando chegar novamente a altura, tenho o hábito de o lavar à mão, em água morna, com detergente. Em boa verdade, o casaco passa umas boas horas de molho, para soltar o máximo de sujidade, sendo depois virado e revirado dentro do alguidar, para que a água e o detergente cheguem a todos os lugares. Antes da lavagem, devem ser retiradas todas as proteções e o forro interior.

Para dentro do alguidar.

O resultado: água completamente preta e casaco com um aspecto mais limpo, embora sem que fique perfeito. Para tal precisaria provavelmente de mais umas lavagens, mas temo que tal não ofereça muita saúde à camada Goretex. Como tal, ficamo-nos por uma só lavagem.

O resultado.

Secagem ao sol.

Está pronto para o próximo inverno!

quinta-feira, 20 de abril de 2023

O segundo dia (1 de Junho) - Parte 1 - N230

 "And since my feet are now fast

And point away from the past

I'll bid farewell and be down the line"

         Bob Dylan - Restless Farewell


Porque viajamos? Não me refiro as viagens que fazemos por obrigação, como por exemplo para ir trabalhar, mas sim àquele bichinho que nos rói por dentro, ou dito de uma forma mais elegante, a uma espécie de chamamento latente, ora mais claro ora mais distante. Talvez seja qualquer coisa primordial ou instintiva, um vestígio de eras passadas, onde migrar era uma questão de sobrevivência, como continua a ser para muitas espécies do reino animal. Há também qualquer coisa de agridoce. Deixamos sempre algo para trás, e o que deixamos para trás continua o seu curso, tal como nós continuamos no nosso. Perdemos, por não estar, mas também ganhamos: outras experiências e vivências. Amadurecemos e endurecemos. E deixamos (nos outros) e levamos (connosco) saudade, esse conceito também agridoce e intimamente ligado ao ato de viajar. 

O segundo dia amanheceu invernoso, confirmando os sinais de mudança dados ao final do dia anterior. Tomei o pequeno-almoço, arrumei o que tinha a arrumar, fiz o checkout, e voltei a montar os sacos laterais na mota. Estava um nevoeiro denso, pelo que teria de ter um cuidado adicional ao descer o resto da N339. A descida foi feita com cuidados adicionais, pois a visibilidade era mínima. Ao começar a entrar na Covilhã, as condições de visibilidade melhoraram, mas o nevoeiro foi substituído por uma chuva miudinha.  

O programa das festas para o dia era ambicioso. O plano era apanhar a N230 já a saída da Covilhã e fazer um troço considerável da mesma. Depois, seria altura de rumar a norte, em direção à N222. Mas para conseguir cumprir o plano, teria de fazer algumas estradas municipais até convergir com a A25, apanhando depois o IP5 e a A24, saindo depois para a N313 e finalmente chegando a N222. Abandonaria a N222 para apanhar a N323 e depois a N322, por forma a tentar apanhar a A24 mais a norte, e daí seguiria até Chaves. Portanto, muitos quilómetros pela frente. Mas as estrelas do dia seriam a N230 e a N222. 

O percurso efectuado na N230, R230 e demais caminhos até à A25.

N230

Curvas, curvas e mais curvas. A N230 liga a Covilhã a Aveiro, mas a parte mais cénica do percurso é aquela que faz fronteira com o Parque Natural da Serra da Estrela. Essa parte foi feita sob chuva miudinha, pelo que pouco depois da saída da Covilhã optei por colocar as capas impermeáveis nos sacos laterais, uma vez que tive receio que as capacidades de impermeabilização dos sacos laterais não fossem grande coisa. 

Algures na N230.

Foi definitivamente uma viagem molhada e bastante desconfortável, pelo menos até passar a área do parque natural. Pouco depois da Ponte das Três Entradas, a N230 como que desaparece momentaneamente, sendo substituída pela N17, voltando a aparecer uns quilómetros mais à frente, atravessando Oliveira do Hospital, passando algum tempo depois a ter dimensões mais modestas e um piso em relativo mau estado. 

Em Ponte das Três Entradas.

Mais à frente, torna-se realmente confusa, desaparecendo e voltando a aparecer novamente mais à frente, deixando de ser a N230 para passar a ser a R230. Se as condições climatéricas deram tréguas até à chegada a Tondela, a partir do Caramulo voltaram a piorar significativamente. Esta é a parte menos glamorosa (se é que existe qualquer glamour) de uma viagem deste tipo. Subir o Caramulo todo encharcado, com uma chuva miudinha e muito má visibilidade, e com uma vontade incrível de urinar tira todo o encanto a uma viagem destas. Ainda para mais quando o itinerário foi construído através do MyMaps do Google Maps, em que desenhar um percurso recorrendo a "drag and drop" de pontos num mapa tem tudo para dar mau resultado. A partir de certa altura, dei por mim em caminhos municipais com mato denso de um lado e de outro. O ponto positivo era que não se via vivalma e foi fácil encontrar uma escapatória para aliviar necessidades fisiológicas. Eventualmente consegui dar com a N333 e com a A25. Mas foi uma verdadeira aventura até lá chegar! E ainda só tínhamos feito o primeiro troço do percurso.

Miradouro de Varandas de Avô.




segunda-feira, 17 de abril de 2023

O primeiro dia (31 de Maio) - Parte 4 - N339

 "We find after years of struggle that we do not take a trip; a trip takes us."

             John Steinbeck, Travels with Charley: In Search of America


N339

Chegado à Covilhã, dirigi-me ao local onde havia de pernoitar. Pelo menos era o que eu pensava. Pouco depois de iniciar os primeiros quilómetros na N339, cheguei aquela que era a localização do hotel. E logo me deparei com o facto do parque de estacionamento estar completamente deserto. Ainda equacionei que tal fosse um sinal dos efeitos nefastos do COVID sobre o turismo, e que iria ter o hotel praticamente todo só para mim, mas tal não fazia qualquer sentido (ou pelo menos fez durante alguns minutos): num cenário normal existiria um ou outro automóvel estacionado pertencente aos trabalhadores do hotel. 

Consultei a reserva, feita e confirmada através do booking.com, e pareceu-me estar tudo ok. Consultei também o email, embora com dúvidas que fosse encontrar algo, pois geralmente estou atento ao mesmo. Na porta do hotel nada informava sobre o fecho do mesmo, pelo que começava a ficar preocupado. O passo seguinte foi arranjar os números de telefone através da internet, mas não tive qualquer sucesso nas muitas tentativas de chamada que fiz. Entretanto, reparei que na Serra da Estrela existiam dois hotéis pertencentes ao mesmo grupo: o hotel dos carquejais e o hotel da Serra da Estrela, localizado nas Penhas da Saúde. Decidi meter-me à estrada novamente em busca do novo destino, que ficava algumas curvas mais adiante na N339. A paisagem começava agora a ficar verdadeiramente interessante, sendo um prenúncio do que me esperava mais à frente. Já tinha estado na Serra da Estrela algumas vezes, mas não tinha dado a devida atenção à estrada que lá nos leva. Mas enquanto não esclarecesse a questão do hotel, não iria conseguir disfrutar verdadeiramente da estrada. 


O percurso feito na N339.

Ao chegar às penhas da saúde é impossível não dar com o hotel, dado o impacto visual do mesmo. Depois de estacionar a mota, dirigi-me à receção, onde o mistério foi resolvido: o hotel dos carquejais tinha sido encerrado e, supostamente, eu deveria ter recebido um email a informar da troca da reserva para o hotel da Serra da Estrela. A situação foi rapidamente resolvida, e pude cumprir o plano inicial: check-in e largar a bagagem no quarto, descansar uns minutos e arrancar até à Torre, fazendo dessa maneira parte do troço da N339. O resto da viagem, já focado em disfrutar, foi um regalo para os sentidos: a serra da estrela pode não ter a grandiosidade dos Alpes, mas não deixa de ter magnificas paisagens naturais e boas curvas. 


Paragem para apreciar a paisagem.

Ao chegar à torre, foi altura de respirar fundo e relaxar: tinha atingido os objetivos para o primeiro dia! Muitos quilómetros e muitas curvas foram feitas num relativamente curto espaço de tempo. Mas estava satisfeito, e sentia-me ansioso em relação ao que estaria para vir nos próximos dias de aventura. Fiz o caminho de volta ao hotel, parando apenas para tirar uma fotos. Nessa noite jantei, ainda cedo, no restaurante do hotel. Após o jantar, ainda fiz uma pequena caminhada pelas Penhas da Saúde, onde foi possível constatar que o tempo estava a mudar. No dia seguinte, as condições climatéricas não seriam tão favoráveis. Mas isso fica para outro post!


Ao final do dia, já com as condições climatéricas em mudança.


terça-feira, 11 de abril de 2023

O primeiro dia (31 de Maio) - Parte 3 - N238


"Oh, I’m sailin’ away my own true love

I’m sailin’ away in the morning

Is there something I can send you from across the sea

From the place that I’ll be landing?"

   Bob Dylan - Boots of Spanish Leather

N238

Após a primeira aventura da N112, e já algo desgastado pelo calor e pelas dores nas mãos/pulsos, comecei a minha incursão pela N238, embora em versão redux, uma vez que apenas fiz o troço entre o Orvalho e a confluência com a M514, seguindo depois até a M513, desembocando na Covilhã. Segundo a Wikipédia, apenas os troços entre Tomar/Vale do Serrão e entre Sertã/Oleiros continuam a integrar aquilo que ainda é considerada a rede de estradas nacionais administradas pela Infraestruturas de Portugal. Os restantes troços foram regionalizados, sendo geridos/mantidos pela administração local. Obviamente, tais diferenças a nível das competências de administração destas estradas têm impacto, acelerando a descaracterização a que a rede de estradas nacionais está votada. O troço em questão é daqueles que, supostamente, foram regionalizados. 

O troço percorrido.

O que dizer deste troço? Espetaculares paisagens e muitas curvas. Destaque para o Miradouro da Sernadela, perto de Janeiro de Cima que, apesar dos vestígios (visíveis à data) deixados pelos incêndios florestais nas imediações, tem uma vista espetacular para o Rio Zêzere. Além alimentar a vista e a alma com a linda paisagem, a paragem serviu também para recuperar energias, aliviar os pulsos e esticar as pernas. 

A vista do Miradouro da Sernadela.

O resto do percurso feito nas estradas municipais já referidas não teve destaques dignos de nota. A partir de determinada altura, sentimos claramente que deixámos para trás a natureza em estado mais puro e que voltamos a entrar na civilização, com as povoações a sucederem-se umas atrás das outras de forma quase ininterrupta. Chegado à Covilhã já durante a tarde, foi altura de me encontrar com a N339, a última nacional a percorrer nesse dia. O hotel reservado atempadamente para pernoitar foi o Hotel dos Carquejais, que ficava no inicio do percurso da N339. O plano era parar no hotel, fazer check-in, deixar a bagagem no quarto, descansar uns minutos, e arrancar pela N339, fazendo o percurso até à Torre da Serra da Estrela. Mas haveria de ter uma surpresa não muito agradável (pelo menos inicialmente), que será contada no próximo post.

sábado, 8 de abril de 2023

O primeiro dia (31 de Maio) - Parte 2 - N112


Nothing behind me, everything ahead of me, as is ever so on the road.

             Jack Kerouac, On the Road 


N112

Novamente encontrado o rumo, lancei-me na N112. O plano inicial era fazer o percurso entre Castelo Branco e o Orvalho, onde apanharia a N238, mas decidi fazer a N112 até ao final, altura em que conflui com a N2. Nessa altura, regressaria pela mesma estrada até ao Orvalho, retomando o plano inicial.  Estrada em boas condições, boas curvas, lindas paisagens: a N112 é uma presença regular em diferentes guias sobre as mais belas estradas nacionais do país, sendo considerada por alguns como uma das melhores.

Paragem em plena N112.

A viagem prosseguiu a bom ritmo até à Pampilhosa da Serra, onde parei para recuperar energias e aliviar os pulsos, que já começavam a dar queixas. Se houve coisa que esta viagem me ensinou foi a poupar as mãos e os pulsos, pois estarão sujeitos a um grande desgaste. Torna-se especialmente importante ter em atenção a maneira como são feitas as curvas, especialmente a pressão imposta nos pulsos, e a força com que se agarra no guiador. 

O percurso na N112.


Embora a memória já me falhe, penso ter sido um pouco depois de ter saído da Pampilhosa que se deu a falha catastrófica do suporte da Go-Pro chinesa. Mas consigo lembrar-me de ter visto a camara cair, e de através do espelho retrovisor ver aquilo que seria a camara a bater varias vezes no chão e, de cada vez que o fazia, dezenas de pedaços voavam pelo ar. Resta dizer que a estrada tinha pouco ou nenhum trafego, pelo que não existiram problemas de maior. Caso estivessem viaturas imediatamente atrás de mim quando a camara caiu, as chatices tinham sido, com toda a certeza, bem maiores.  

Tentei parar a mota logo que possível e voltei para trás. Assim que cheguei a zona onde a câmara tinha aterrado, deparei-me com múltiplos fragmentos. Enervado com a situação, ao parar a mota não reparei atempadamente que o descanso não tinha ficado corretamente colocado. Resultado: mota no chão. Com algum custo, volto a colocar a mota na vertical. Devido aos chamados "cogumelos", nome dado às proteções laterais, os estragos não foram consideráveis: apenas um arranhão na tampa do motor. 

Já na berma, encontrei aquilo que seria o corpo principal da câmara, mas o cartão de memória não estava lá. Foi provavelmente ejetado a alta velocidade, perdendo-se para sempre. A cereja no topo do bolo foi tentar reiniciar a viagem e não conseguir ligar a mota. Acontece que quando a mota caiu, o sistema de corte de alimentação entrou em funcionamento. Além disso, pelo facto de ter estado na horizontal, a bomba de gasolina deverá ter desferrado, ou qualquer coisa desse género. A mota simplesmente não queria pegar. Após várias tentativas e muitos suores frios, a mota voltou a pegar. 

No final da  N112, já com o depósito quase vazio, foi altura de procurar um posto de abastecimento. Outro ensinamento: o planeamento deve também incluir a localização de postos de abastecimento, uma vez que nestas estradas poderão existir longos troços sem que se vislumbre um. Nessa altura foi necessário fazer uma incursão pela N2 em busca de um posto, que encontrei já quase a chegar a Góis. O resto do percurso até ao Orvalho correu sem sobressaltos. 

E a viagem tinha só começado! Faltava percorrer parte da N238 e, mais tarde, a N339.

Belas vistas na N112.


terça-feira, 4 de abril de 2023

O primeiro dia (31 de Maio) - Parte 1 - A Partida

VIAGEM

Aparelhei o barco da ilusão

E reforcei a fé de marinheiro,

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar...

(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos.)


Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida,

Desmedida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura...

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.

                                Miguel Torga


O dia amanheceu solarengo, embora algo fresco. Embora tivesse preparado tudo no dia anterior, fiz uma extensiva verificação de última hora. Obviamente, sentia um nervoso miudinho, pois nunca tinha feito algo do género, de mota, e sozinho, com inúmeras dúvidas sobre o que iria encontrar. Até ao momento, e apesar do gozo que me dava, a mota tinha sido, acima de tudo, um meio necessário para me transportar todos os dias até ao trabalho e de volta a casa, fintando o trânsito, e dessa maneira permitindo ainda ter tempo para mim e para os meus. Mas agora seria diferente. 

Lembro-me de, nos dias imediatamente anteriores à viagem, ter controlado essas dúvidas com doses adicionais de motivação, trazidas pela visualização de um conjunto de vídeos fantásticos que relatam uma viagem de um mês através da América em cima de duas rodas:

É claro que falamos de viagens incomparáveis em termos de magnitude, mas esta seria a minha viagem. 

O plano foi estabelecido nas semanas anteriores: de forma a ganhar tempo para percorrer as estadas que queria percorrer, seguiria através de autoestrada até Castelo Branco. A partir daí, mergulharia de cabeça nas nacionais, percorrendo três nesse primeiro dia: N112, N238 e N339. Ao todo, cerca de 440 kms.

O percurso para o primeiro dia.

Parti antes das 9 da manhã. A viagem em autoestrada não foi particularmente agradável, e durante esse percurso o tempo pareceu alternar entre o solarengo e o nublado. Não há nada de relevante a relatar durante esse percurso, apenas uma paragem numa estação de serviço para usar a casa de banho e esticar as pernas durante uns curtos minutos. Chegado a Castelo Branco ainda de manhã, fiz mais uma pausa para verificar mais uma vez o percurso.

Importa dizer que durante a viagem usei uma app chamada Routes para me guiar através dos percursos estabelecidos. Embora tenha usado o Google Maps para desenhar a rota a seguir, arrastando a linha que define o percurso por forma a passar pelas estradas que desejava, este não permite seguir a rota definida, tendo de exportar a mesma e carregar nessa outra app. Infelizmente, a app Routes tem (ou tinha na altura) capacidades de navegação bastante inferiores aquelas disponibilizadas pelo Google, mas pelo menos iria poder seguir o percurso que tinha definido. 

Mais ou menos. Acontece que ainda andei meio que perdido em Castelo Branco até conseguir dar com a N112.

Paragem no miradouro da Sarnadela, em plena N238.


domingo, 2 de abril de 2023

Preparação da viagem

Sei que passou algum (bastante) tempo desde o último post, mas mais vale tarde do que nunca. Talvez outros assuntos mais importantes se tenham atravessado no caminho, e acabei por me esquecer do blog e do objetivo de registar esta viagem.

Olhando para trás, com o arrefecimento trazido pelo maior distanciamento relativamente à viagem em si, considero ter sido um marco importante por diversas razões. Embora conhecer um pouco melhor o país e as suas magnificas estradas e paisagens seja obviamente um aspeto muito importante dessa jornada, o aspeto mais importante talvez tenha sido a viagem interior feita em simultâneo com a outra viagem. 

Conduzir uma mota não é o mesmo que conduzir um carro. É uma experiencia física e sensorial muito diferente. A mota torna-se uma extensão daquilo que somos. Sentimos tudo aquilo que é propagado através da estrutura da mota, seja as imperfeições da estrada, seja a vibração do motor. Sentimos todos os cheiros, ouvimos o ruído incessante do vento. 

Enquanto que a mota nos transporta para um destino, a nossa alma ou aquilo que somos, é também transportada para um outro local, amadurecendo pelo caminho. Viajar é algo que nos cultiva, seja num carro, num avião, a pé ou de mota. Embora de mota (e suponho que a pé também, mas com dificuldade acrescida), devido a exigência trazida pelo aspeto físico envolvido, esse cultivar tenha tendência a produzir mais frutos. 

O facto de ter feito a viagem completamente sozinho certamente contribuiu para que fosse, acima de tudo, uma viagem introspetiva. Com companhia, a viagem teria tido uma natureza diferente. 

O plano  para a viagem envolvia fazer cerca de 400 kms por dia. Uma vez que a maioria dos percursos seria feito em estradas nacionais, o plano assumia contornos particularmente exigentes. Para que fosse possível cumprir essa meta, não seria possível fazer pausas extensas, apenas as obrigatórias para satisfazer necessidades fisiológicas. A alimentação consistiria no consumo de barras de cereais e sumos/águas quando a paragem se tornasse mesmo necessária. Após a chegada ao destino determinado para o dia, aí haveria lugar a um jantar condigno e a uma cama decente. Para tal, foi necessário fazer a reserva atempada de alojamento para pernoitar.


A Z900 com as bolsas laterais e a bolsa de depósito durante uma paragem no primeiro dia, em Castelo Branco.


Para poder executar o plano, foi necessário investir em algum equipamento para transportar mantimentos e roupa para a totalidade dos dias de viagem:

  • Bolsas laterais SHAD E48 e respetivos suportes: sistema de montagem relativamente fácil; muito espaço arrumações; não é completamente impermeável, mas inclui duas capas para aumentar a capacidade de impermeabilização. Uma das bolsas teve a função de armazenar as mudas de roupa (cerca de 5 t-shirts, mudas de roupa interior, uma muda de calças). 
  • Bolsa de tanque SHAD E16P e respetivo sistema de fixação pin: o sistema de pin é de fácil montagem. A bolsa é bastante volumosa, oferecendo bastante espaço. Devido as suas grandes dimensões, acaba por interferir um pouco com a visibilidade do mostrador da mota, sendo necessário alguma habituação à mesma. Se soubesse o que sei hoje, talvez tivesse comprado uma bolsa ligeiramente mais pequena.
Levei também uma camara chinesa tipo Go-Pro (falecida durante a viagem): o objetivo era registar alguns vídeos da viagem, mas uma falha catastrófica do suporte da camara levou a que a mesma se partisse em inúmeros pedaços quando caiu ao asfalto com a mota em franco andamento.

O próximo post será focado no primeiro dia, com partida de Alhandra e destino Covilhã, com passagens pela N112, N238 e N339.

 



Um marco

Marca dos 50.000 kms ultrapassada, numa mota que tenho desde os 0 kms. Sem problemas de maior. Apenas gasolina e revisões periódicas.  Pode ...